terça-feira, novembro 28, 2006

Ontem



Ontem eu vaguei pela cidade
e talvez estivesse mais iluminada que de costume,
e talvez fosse belo seu lume.
Mas ontem só enxerguei trevas.
Ontem encontrei infinito casais
como se fossem infinitos os homens e mulheres do mundo,
e passaram todos diante de meus olhos,
e eram todos felizes.
Ontem meus fracassos se reuniram
e caçoaram de minhas desastradas tentativas de superá-los.
Estavam todos lá
e eu acenei sem motivo em consonância.
Ontem meus pedaços, que havia juntado,
espatifaram-se; não como vidro,
posto que não eram cacos: eram areia.
Meus pedaços escorreram entre meus dedos.
Ontem as feridas antigas se abriram
e as cicatrizes doeram.
Nenhum remédio foi suficiente.
Nenhuma bandagem estancou o sofrimento.
Ontem eu não tive amigos.
Minto! Houve um, apenas um...
Cansado de vagar, me prostei, sentado,
cabeça entre as pernas, farto.
E então ele chegou.
Cansado de vagar, se prostou, sentado,
cabeça entre as patas, farto e faminto.
E me olhou com toda a tristeza do mundo nos olhos.
Era apenas um cachorro vadio.
E falou comigo; embora não falem os cachorros,
aquele me falou com toda a tristeza que carregava.
Entendemmo-nos e calamo-nos.
Pensei em levá-lo para o meu lar,
se tivesse um.
Naquele momento Deus deveria ter se compadecido
e me dado um lar,
não por mim, mas pelo cachorro.
E aquele canino vadio seria meu
e junto com uma mulher, dois filhos e um gato
seria meu lar.
Mas ontem Deus se esqueceu de um homem e de um cão.

Um comentário:

Anônimo disse...

não gosto quando escreve coisas assim...