terça-feira, novembro 28, 2006

Alguém como você.

Alguém como você não merece chorar.
A luz que te cerca faz todos sorrirem,
como a paz de planícies tranquilas,
como o simples fato de ser feliz.
A luz que de ti irradia me faz sorrir,
e me faz dizer
palavras que eu não conseguiria falar
por um motivo que as palavras
não poderiam te explicar.
Que teus desejos sejam a realidade,
e que o significado da vida
para ti esteja sempre claro.
Alguém como você não merece sofrer.
Mas o destino é injusto;
então, se algum dia alguém te ferir,
podes contar sempre comigo,
se necessitares de carinho e um ombro amigo,
podes confiar em mim.
Sonhar não nos faz feliz,
no entanto, reduz a tristeza.
Mas não construa ilusões
fadadas a serem tragadas
pelo escorrer pesado das lágrimas.
Eeu, que sempre esqueço as palavras
que penseina noite passada.
Nestas horas o coração diz coisas
das quais me arrependo depois.
Queria estender a mão ao toque.
Seria tão bom,se fácil fosse.
Seria tão duradouro, se começasse.
Eu gosto do meu choro entrecortado
e gosto de chorar
em cada dia da ausência
do teu sorriso, causa do meu sorrir.
Se o tempo me doasse uma fração de si
e a distância se dobrasse de bom grado...
Quisera eu que estivesses aqui
o tempo todo, ao meu lado.
E que minhas únicas armas
não fossem palavras.
E também quisera
que o tempo não fosse inimigo,
que a solidão dormisse com outro,
que a sorte me sorrise uma vez,
que meu andar fosse calmo e feliz,
que tudo estivesse bem.
Se a medidado valor fosse
a intenção de te ver sorrindo
eu teria todo o valor do mundo.
Mas a vida tem dessas:
de boas intenções o inferno está cheio.

Ambíguo

Na minha mão esquerda trago lágrimas,
trago sangue.
Futuros desfeitos e ilusões perdidas,
dentes partidos de ranger,
pétalas despedaçadas.
Maldições.
Trago na mão esquerda
a velha e amiga tristeza;
os olhos cansados...
As longas noites de esperanças dispersas,
os longos dias de desengano maltrapilho.
Desconstrução e dor em espelhos alquebrados.

Na minha mão direita trago um sorriso,
trago vida.
Esperança retumbante e até alguns sonhos,
um jardim por cultivar,
alegrias teimosas.
Ilusões.
Trago na mão direita
a inocência dos infantes;
olhos bem abertos...
As longas tardes nas sombras dos arvoredos,
os longos dias de sonhos dispersos.
Um lar e um lugar nas lamedas da memória.

Que me perdoe o velho e amigo sorriso,
mas hoje cerro a mão direita, hoje liberto,
nem que seja por todos os instantes,
o que trago na mão esquerda.

Ontem



Ontem eu vaguei pela cidade
e talvez estivesse mais iluminada que de costume,
e talvez fosse belo seu lume.
Mas ontem só enxerguei trevas.
Ontem encontrei infinito casais
como se fossem infinitos os homens e mulheres do mundo,
e passaram todos diante de meus olhos,
e eram todos felizes.
Ontem meus fracassos se reuniram
e caçoaram de minhas desastradas tentativas de superá-los.
Estavam todos lá
e eu acenei sem motivo em consonância.
Ontem meus pedaços, que havia juntado,
espatifaram-se; não como vidro,
posto que não eram cacos: eram areia.
Meus pedaços escorreram entre meus dedos.
Ontem as feridas antigas se abriram
e as cicatrizes doeram.
Nenhum remédio foi suficiente.
Nenhuma bandagem estancou o sofrimento.
Ontem eu não tive amigos.
Minto! Houve um, apenas um...
Cansado de vagar, me prostei, sentado,
cabeça entre as pernas, farto.
E então ele chegou.
Cansado de vagar, se prostou, sentado,
cabeça entre as patas, farto e faminto.
E me olhou com toda a tristeza do mundo nos olhos.
Era apenas um cachorro vadio.
E falou comigo; embora não falem os cachorros,
aquele me falou com toda a tristeza que carregava.
Entendemmo-nos e calamo-nos.
Pensei em levá-lo para o meu lar,
se tivesse um.
Naquele momento Deus deveria ter se compadecido
e me dado um lar,
não por mim, mas pelo cachorro.
E aquele canino vadio seria meu
e junto com uma mulher, dois filhos e um gato
seria meu lar.
Mas ontem Deus se esqueceu de um homem e de um cão.

quinta-feira, novembro 23, 2006

Reticências




A mariposa pensava na efemeridade da vida,
aproximou-se a morte e a levou, distraída...
Enquanto há botões de rosa por colher, colha
que a rosa de hoje estará morta amanhã sem escolha...

Um velho me disse em seu leito de morte
que à mesma porta não bate duas vezes a sorte.
Aproveita teu tempo, que a derradeira desgraça
é infalível e certa, imprevisível e crassa.

O homem faz o tempo e o óleo das horas
escorre dos passados indeléveis perdidos agoras...
"Se sou eterno, e vós tanto não duras, pelo contraste,
abandonai toda a esperança, vós que entraste.

Entrego a ti meu tempo,
Cronos sabe que não o temo.

Entrego a ti minhas horas e dias,
afinal de que servem essas horas vazias?

Me entrego a ti...

"Felix: but the lunatic is in my heart
the lunatic is in my home
the lunatic is in my head..."

"Tantas reticências... denotam continuidade ao infinito. Inúteis reticências...
Essa eu fiz ao som de A Change of Seasons, do Dream Theater, e a parte VI chama-se Carpe Diem. Há três citações nessa poesia: a parte da mariposa é paráfrase de algo que Isabel escreveu no Lado Escuro da Lua; a parte dos botões de rosa é paráfrase de A Sociedade dos Poetas Mortos; e finalmente a parte entre aspas é paráfrase de Dante e sua Divina Comédia. E mesmo assim ficou uma droga... Tinha tudo para ficar bom, mas é difícil escrever algo às quatro da manhã."

sexta-feira, novembro 17, 2006

Lívida



Lívida imagem que escorre de ti para mim,

presa entre palavras que não a podem descrever;
afogada entre dedos que não podem toca-la:
dedos lívidos que se apertam pelo não poder.
Um querer tão lívido...

Tresloucado ar que me escapa ao controle
em suspiros entrecortados que são quase soluços...
Em palavras e balbúcias que são aos outros murmúrios,
mas que a mim são sonhos confusos, sonhos difusos...
E ainda assim tão lívidos...

Ah! Esses certeiros ecos de vidas passadas...
São o punho caprichoso de um deus ensandecido
a esmurrar-me o estômago e ecoar-se longínquo:
um eco rouco e monocórdico, surdo e ainda lívido...
Tão baixo e tão lívido!

Essa efêmera fragrância de terras encharcadas
me estupra o olfato, arrebentam como gotas de fervor.
Tempestade que surge do nada das trevas dos montes,
dos horizontes,
ermos distantes,
repentina:
"Tu és defato como o que declaro ser o amor,
porque também és lívida!"

Lava-me a alma!
Cura-me as dores!
Sufoca meu lamento,
abafa meus clamores;
toca meu cabelo,
encerra essa ferida!
Eu te imploro, oh, tempestade:
a ti, que és toda lívida.

Nuvem negra, deixa-me a paz:
dá-me a tua paz, essa negra e tempestuosa paz.
Essa paz que trazes aos amantes,
essa paz que é busca de toda a vida,
essa paz que se sabe lívida...
Paz para toda a vida:
Vida lívida.


"..."