terça-feira, novembro 28, 2006
Alguém como você.
Ambíguo
trago sangue.
Futuros desfeitos e ilusões perdidas,
dentes partidos de ranger,
pétalas despedaçadas.
Maldições.
Trago na mão esquerda
a velha e amiga tristeza;
os olhos cansados...
As longas noites de esperanças dispersas,
os longos dias de desengano maltrapilho.
Desconstrução e dor em espelhos alquebrados.
Ontem
quinta-feira, novembro 23, 2006
Reticências
A mariposa pensava na efemeridade da vida,
aproximou-se a morte e a levou, distraída...
Enquanto há botões de rosa por colher, colha
que a rosa de hoje estará morta amanhã sem escolha...
Um velho me disse em seu leito de morte
que à mesma porta não bate duas vezes a sorte.
Aproveita teu tempo, que a derradeira desgraça
é infalível e certa, imprevisível e crassa.
O homem faz o tempo e o óleo das horas
escorre dos passados indeléveis perdidos agoras...
"Se sou eterno, e vós tanto não duras, pelo contraste,
abandonai toda a esperança, vós que entraste.
Entrego a ti meu tempo,
Cronos sabe que não o temo.
Entrego a ti minhas horas e dias,
afinal de que servem essas horas vazias?
Me entrego a ti...
"Felix: but the lunatic is in my heart
the lunatic is in my home
the lunatic is in my head..."
"Tantas reticências... denotam continuidade ao infinito. Inúteis reticências...
Essa eu fiz ao som de A Change of Seasons, do Dream Theater, e a parte VI chama-se Carpe Diem. Há três citações nessa poesia: a parte da mariposa é paráfrase de algo que Isabel escreveu no Lado Escuro da Lua; a parte dos botões de rosa é paráfrase de A Sociedade dos Poetas Mortos; e finalmente a parte entre aspas é paráfrase de Dante e sua Divina Comédia. E mesmo assim ficou uma droga... Tinha tudo para ficar bom, mas é difícil escrever algo às quatro da manhã."
sexta-feira, novembro 17, 2006
Lívida
Lívida imagem que escorre de ti para mim,
presa entre palavras que não a podem descrever;
afogada entre dedos que não podem toca-la:
dedos lívidos que se apertam pelo não poder.
Um querer tão lívido...
Tresloucado ar que me escapa ao controle
em suspiros entrecortados que são quase soluços...
Em palavras e balbúcias que são aos outros murmúrios,
mas que a mim são sonhos confusos, sonhos difusos...
E ainda assim tão lívidos...
Ah! Esses certeiros ecos de vidas passadas...
São o punho caprichoso de um deus ensandecido
a esmurrar-me o estômago e ecoar-se longínquo:
um eco rouco e monocórdico, surdo e ainda lívido...
Tão baixo e tão lívido!
Essa efêmera fragrância de terras encharcadas
me estupra o olfato, arrebentam como gotas de fervor.
Tempestade que surge do nada das trevas dos montes,
dos horizontes,
ermos distantes,
repentina:
"Tu és defato como o que declaro ser o amor,
porque também és lívida!"
Lava-me a alma!
Cura-me as dores!
Sufoca meu lamento,
abafa meus clamores;
toca meu cabelo,
encerra essa ferida!
Eu te imploro, oh, tempestade:
a ti, que és toda lívida.
Nuvem negra, deixa-me a paz:
dá-me a tua paz, essa negra e tempestuosa paz.
Essa paz que trazes aos amantes,
essa paz que é busca de toda a vida,
essa paz que se sabe lívida...
Paz para toda a vida:
Vida lívida.
"..."