domingo, setembro 02, 2007

Sierra Madre

Se eu aprendesse a língua dos pássaros
pousaria por sobre a flor mais rara,
estenderia minhas asas até Sierra Madre,
me entorpeceria com os Tarahumara.
Mas só sei a língua da saudade.
Eu molharia teus cabelos negros;
se eu fosse a chuva do verão pesada.
Encharcaria teus seios lânguidos,
a beber de tua pele suada.
Mas só sou a terra árida.
Quisera eu ser a brisa primaveril
a entrar pela sua janela entreaberta
testemunhar sua nudez de Vênus
e refrescar-te a tez desperta.
Mas eu sou o frio do Inverno.
Ah, eu queria ser o mais ínfimo
dos bordados em teu avental,
a mais definhada das folhas amarelas
que tecem tapetes no teu quintal.
Mas meus sonhos são grandiosos.
Confesso a minha vil inveja
do menor caco do espelho quebrado
que testemunha tua fúria e angústia
mas que esteve já ao teu lado.
Mas só testemunho a distância.
Pássaro que voa tão livre, ensina-me
a canção que canta tão saltitante.
Leva o meu medo, toma minha dor:
essa infinita dor de amante!
Porque sou toda a minha dor!
Felix