segunda-feira, abril 07, 2008

RAÍZES

Eu sou
a ceifa de todas as raízes
a colheita dos destroços
a enxurrada de água limpa.

O céu e o mar
cabem na palma da minha mão.
Assim como o meu futuro
está contido entre três segundos.

Tenho a mim mesmo
preso em uma moldura.
E é como se tudo fosse novo
mas na verdade é velharia.

Eu sou eu mesmo
e sou o mesmo.
Meu passado é meu futuro
num ciclo maia de previsões .

Liberta-me dessa corrente.
Marca minha pele aos gritos.
Encerra minha calma.
Destrói meus arcos de palha.
Corta minhas raízes
que só assim serei teu.

HERANÇA

Tenho tanto dela hoje.
Eu herdei dela toda a escuridão.
Daquela que tombou as estrelas
herdei o negrume de cabelos longos
e a solidão em meu nome.

Entre minha língua e nome dela
foi feito um pacto de adoração.
Ostenta ainda minha pele
a marca daqueles dentes
e a brasa daqueles seios.

Herdei de tua pele velina
a maciez de minhas ofensas.
De quando me dilaceravas
tenho as marcas de chicote
e o olhar ferino arquejante.

De todas as tardes afogadas
nos labirintos do ventre dela
ainda tenho hoje a febre.
Tenho um mar misto
de naufrágio e tragédia.

Em dias assim
tenho tanto dela
e tão pouco de mim...
Nestas tardes e reveses
parece que é como
se eu ainda a tivesse.

Candelabro

Eu construí uma ponte sobre o tempo
Visitei a sala da memória
E exumei o sepulcro do passado
Mas o cadáver não era belo.

Detrás da porta do esquecimento
Trancado por sete mil chaves
Velado por aurora afogueadas
Achei teu fantasma faminto.

Encontrei candelabros tristes
E poeira de sonhos no abandono
Fotografias desbotadas de risos
E lágrimas novas de chuva.

Ali na casa sem número
Na alameda da solidão e saudade
No alto da montanha remota
eu me perdi e te encontrei.

E de tanta dor e tanto peso
Encerrei nessa laje o lamento
Entre te lembrar e estar preso
Eu escolhi o esquecimento.