segunda-feira, abril 07, 2008

HERANÇA

Tenho tanto dela hoje.
Eu herdei dela toda a escuridão.
Daquela que tombou as estrelas
herdei o negrume de cabelos longos
e a solidão em meu nome.

Entre minha língua e nome dela
foi feito um pacto de adoração.
Ostenta ainda minha pele
a marca daqueles dentes
e a brasa daqueles seios.

Herdei de tua pele velina
a maciez de minhas ofensas.
De quando me dilaceravas
tenho as marcas de chicote
e o olhar ferino arquejante.

De todas as tardes afogadas
nos labirintos do ventre dela
ainda tenho hoje a febre.
Tenho um mar misto
de naufrágio e tragédia.

Em dias assim
tenho tanto dela
e tão pouco de mim...
Nestas tardes e reveses
parece que é como
se eu ainda a tivesse.

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