sexta-feira, novembro 17, 2006

Lívida



Lívida imagem que escorre de ti para mim,

presa entre palavras que não a podem descrever;
afogada entre dedos que não podem toca-la:
dedos lívidos que se apertam pelo não poder.
Um querer tão lívido...

Tresloucado ar que me escapa ao controle
em suspiros entrecortados que são quase soluços...
Em palavras e balbúcias que são aos outros murmúrios,
mas que a mim são sonhos confusos, sonhos difusos...
E ainda assim tão lívidos...

Ah! Esses certeiros ecos de vidas passadas...
São o punho caprichoso de um deus ensandecido
a esmurrar-me o estômago e ecoar-se longínquo:
um eco rouco e monocórdico, surdo e ainda lívido...
Tão baixo e tão lívido!

Essa efêmera fragrância de terras encharcadas
me estupra o olfato, arrebentam como gotas de fervor.
Tempestade que surge do nada das trevas dos montes,
dos horizontes,
ermos distantes,
repentina:
"Tu és defato como o que declaro ser o amor,
porque também és lívida!"

Lava-me a alma!
Cura-me as dores!
Sufoca meu lamento,
abafa meus clamores;
toca meu cabelo,
encerra essa ferida!
Eu te imploro, oh, tempestade:
a ti, que és toda lívida.

Nuvem negra, deixa-me a paz:
dá-me a tua paz, essa negra e tempestuosa paz.
Essa paz que trazes aos amantes,
essa paz que é busca de toda a vida,
essa paz que se sabe lívida...
Paz para toda a vida:
Vida lívida.


"..."

Um comentário:

Anônimo disse...

Suas palavras tem um grande poder de tocar as pessoas.Diria que são quase mágicas.
Voce, assim como os seus versos me emocionam muito. As vezes mais do que eu gostaria!