sexta-feira, dezembro 08, 2006

Madona de Porcelana



Não te quebres, madona de porcelana.
Não sejas pálida como a pobre luz das luas de Júpiter
(Fobos e Deimos - terror e medo);
não sejas imóvel como as ondas
cristalizadas no momento do talvez,
sejas movimentos ondeante de pulsar./
Não cerres teus olhos brancos de pó-de-arroz.
Continua olhando por mim agora,
como as imagens desses santos de barro.
Não firas com tuas unhas esmaltadas
e embebidas em sangue pranteado,
rubras lâminas de porcelana./
Não sejas mera marionete de porcelana,
vítrea marionete de um destino invérneo.
Não te congeles na gélida textura de mármore,
e nem te endureças tanto;
que em ti ainda haja pranto,
e sorriso nos teus dentes de porcelana./
Não ponha em teu sorriso o amargor
da bile negra de dias passados.
Não ponha em teu sorriso apenas
a clareza pura de porcelana;
reserva-te ainda que falseado
o brilho esperançoso e verde do jade./
Não me mostre dentes de marfim:
não quero um sorriso sacrificial, artificial.
Não me aludas a estar em teu reino,
se não me desejas devorado inteiro,
se desejas apenas o frio toque
quebradiço e distante de porcelana./
Não sejam meus sonhos um desvairio
de um louco deitado em cama gélida,
ou os deleites de morto em jazigo perpétuo,
que tem por esquife um peito arfante,
que deita à lage triste o amor marmóreo
de uma escrita encravada à força de lágrimas./
Não te evadas, boneca de porcelana.
Não sejas frágil como a porcelana
e menos ainda insensível como as bonecas:
sejas viva.

2 comentários:

Anônimo disse...

Felix do ceú, as suas palavras sempre t~ao precisas, tomara que tudo seja melhor. Cuidate mucho ya te estaré leyendo con más frecuencias, repito como siempre que es un placer leerte

felix disse...

Adorei escrever cada palavra dessa poesia... consegui falar de coisas mais ou menos ruins sem usar palavras agrssivas, e falare de coisas boas sem usar de palavras piegas. É o meio-termo que me agrada, e capta bem o que se passa em minha mente...