quinta-feira, junho 19, 2008

Ibara no Namida (Lágrimas de Espinhos)

Passou o tempo
e eu passei.
Fiquei prostado assistindo.
Eu dormia em ti e em ti acordava.
Agora sou como um matusalém:
letárgico como uma enchente.
Meus olhos doem
na luz da Primavera.
Minhas narinas ardem
com o frescor da dama-da-noite.
Minha pele queima
com a brisa gélilda e montanhesa.
Meu hálito exala mil anos.
Todos mudaram
e ainda são os mesmos.
Nada realmente muda.
Deixe-me despir você do meu peito.
Deixa meu peito nu
emaranhar-se nos espinhos das roseiras;
deixa minha pele nua
banhar-se de lágrimas frescas.
Eu agora quero viver:
afasta-te, fantasma: o passado.
Agora tudo passou.
E eu estou passando.
Deixa haver pranto,
deixa haver espinho,
que eu quero sofrer.
Eu quero que o meu sangue
verta na terra árida.
Eu acho que isso é viver.
Deixa haver lágrima
e deixa haver espinho.
Só não deixa haver lembrança.

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