quarta-feira, dezembro 13, 2006
sexta-feira, dezembro 08, 2006
Maquiavel
Teu grande poder, debalde espera
Jamais fazer fé verdadeira
Qual seja no céu mais alto valor:
Nem sabe como é viver morrendo,
Como segue-se o dano e ao bem se foge,
Como ama-se a outrem
Mais do que a si mesmo,
Como denso temor e esperança
Os corações gela e consome;
Nem sabe como homens e deuses
Temem a seta de que estás armado."
Maquiavel - Mandrágora
Circularidade
Ah! E também encontrei uma frase do Freud que mudou meu humor só de lê-la.
Garcilaso de la Vega:
"Ó doces prendas por mim mal achadas,
Quando paro a contemplar meu estado e ver os passos por onde me trouxeste...
Eu acabarei, pois me entreguei sem arte a quem me saberá perder e acabar.
Enfim a vossas mãos hei chegado
Onde sei que hei de morrer
Para que só em mim seja provado o quanto corta um espada num rendido"
Retirado de Gabriel García Márquez, Do Amor e Outros Demônios
Madona de Porcelana
quarta-feira, dezembro 06, 2006
Boca e Cabelo
e só me encontro em ti.
Tua boca e cabelo, labirintos sinuosos
de minha alma feita refém,
teu prisioneiro por vontade,
teu vassalo por escolha.
És meu prazer e minha dor.
Meu mais honesto segredo,
minha coragem e força:
já não temo meu medo,
nada temo agora.
Navego pelo jardim edênico,
tua boca e cabelo.
Mar descortinado diante de mim,
e minha pequenez é tamanha
que desapareço longe de ti.
Amigos me desconhecem: eu mesmo
me desconheço, porque choro.
e é um choro de menino, de alegria,
choro de saudades.
Já não caibo em mim,
esse sentimento desmesurado.
Vagante perdido, tento fingir, em vão,
que não sei o que busco.
Mas no frio da madrugada sutil,
quando estou só eu comigo mesmo,
eu confesso a mim:
e é a ti que procuro
em cada esquina dobrada,
nesse meu olhar perdido.
Velhos conhecidos me desconhecem.
É que estou cortado
na navalha do fio de teus cabelos.
Velhos amigos me indagam,
mas minhas palavras
perderam-se boca tua adentro.
Boca e cabelo, mõs.
Cabelo e boca, sôfrego aperto.
Nada mais posso desejar.
Felix - do céu ao Inferno e novamente ao céu em 24 horas.
"Lifting shadows of a dream once broken
She can turn a drop of water into an ocean."
sábado, dezembro 02, 2006
Saudades
terça-feira, novembro 28, 2006
Alguém como você.
Ambíguo
trago sangue.
Futuros desfeitos e ilusões perdidas,
dentes partidos de ranger,
pétalas despedaçadas.
Maldições.
Trago na mão esquerda
a velha e amiga tristeza;
os olhos cansados...
As longas noites de esperanças dispersas,
os longos dias de desengano maltrapilho.
Desconstrução e dor em espelhos alquebrados.
Ontem
quinta-feira, novembro 23, 2006
Reticências
A mariposa pensava na efemeridade da vida,
aproximou-se a morte e a levou, distraída...
Enquanto há botões de rosa por colher, colha
que a rosa de hoje estará morta amanhã sem escolha...
Um velho me disse em seu leito de morte
que à mesma porta não bate duas vezes a sorte.
Aproveita teu tempo, que a derradeira desgraça
é infalível e certa, imprevisível e crassa.
O homem faz o tempo e o óleo das horas
escorre dos passados indeléveis perdidos agoras...
"Se sou eterno, e vós tanto não duras, pelo contraste,
abandonai toda a esperança, vós que entraste.
Entrego a ti meu tempo,
Cronos sabe que não o temo.
Entrego a ti minhas horas e dias,
afinal de que servem essas horas vazias?
Me entrego a ti...
"Felix: but the lunatic is in my heart
the lunatic is in my home
the lunatic is in my head..."
"Tantas reticências... denotam continuidade ao infinito. Inúteis reticências...
Essa eu fiz ao som de A Change of Seasons, do Dream Theater, e a parte VI chama-se Carpe Diem. Há três citações nessa poesia: a parte da mariposa é paráfrase de algo que Isabel escreveu no Lado Escuro da Lua; a parte dos botões de rosa é paráfrase de A Sociedade dos Poetas Mortos; e finalmente a parte entre aspas é paráfrase de Dante e sua Divina Comédia. E mesmo assim ficou uma droga... Tinha tudo para ficar bom, mas é difícil escrever algo às quatro da manhã."
sexta-feira, novembro 17, 2006
Lívida
Lívida imagem que escorre de ti para mim,
presa entre palavras que não a podem descrever;
afogada entre dedos que não podem toca-la:
dedos lívidos que se apertam pelo não poder.
Um querer tão lívido...
Tresloucado ar que me escapa ao controle
em suspiros entrecortados que são quase soluços...
Em palavras e balbúcias que são aos outros murmúrios,
mas que a mim são sonhos confusos, sonhos difusos...
E ainda assim tão lívidos...
Ah! Esses certeiros ecos de vidas passadas...
São o punho caprichoso de um deus ensandecido
a esmurrar-me o estômago e ecoar-se longínquo:
um eco rouco e monocórdico, surdo e ainda lívido...
Tão baixo e tão lívido!
Essa efêmera fragrância de terras encharcadas
me estupra o olfato, arrebentam como gotas de fervor.
Tempestade que surge do nada das trevas dos montes,
dos horizontes,
ermos distantes,
repentina:
"Tu és defato como o que declaro ser o amor,
porque também és lívida!"
Lava-me a alma!
Cura-me as dores!
Sufoca meu lamento,
abafa meus clamores;
toca meu cabelo,
encerra essa ferida!
Eu te imploro, oh, tempestade:
a ti, que és toda lívida.
Nuvem negra, deixa-me a paz:
dá-me a tua paz, essa negra e tempestuosa paz.
Essa paz que trazes aos amantes,
essa paz que é busca de toda a vida,
essa paz que se sabe lívida...
Paz para toda a vida:
Vida lívida.
"..."